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Após celebrada a Anistia, em 1979, o PCdoB ainda em semi-clandestinidade, João Amazonas insistia da necessidade de “falarmos para milhões”.

Como seria isto possível — eu me perguntava — a um partido pequeno, que então se reorganizava após o duro período da ditadura militar?

Abordei Amazonas sobre o assunto: “alcançar milhões como?”

O velho dirigente, em seu modo simples e firme de se expressar, sugeriu:

— Pense dialeticamente camarada. Esse Brasil imenso se move a contradições e a nossa tarefa é compreendê-las e nos colocarmos politicamente na posição correta.

É o que o Partido faz agora, ousadamente, ao dar um passo adiante e sua tática eleitoral.

Audacioso ao apresentar candidaturas próprias a prefeito em capitais e cidades grandes e médias, a partir mesmo do Sudeste, numa situação política em que a correlação de forças ainda é francamente desfavorável ao campo democrático e popular. Uma aposta na justeza da linha política do Partido e na necessidade de nos apresentarmos como alternativa visível a grandes parcelas do eleitorado, carentes de proposições que correspondam às suas inquietações, necessidades e expectativas.

Isto no âmbito do “Movimento 65“, que para além da militância filiada ao Partido busca agregar, nos mais diversos segmentos da sociedade, gente que se bate pela democracia e pelos direitos do povo.

Mirando o pleito de 2020, trata-se de formular uma plataforma em defesa de cidades democráticas e mais humanas.

No âmbito desse movimento, dar ensejo a que cidadãos e cidadãs imbuídos dos mesmos propósitos, ainda que não aderentes plenamente ao Programa Socialista do PCdoB, disputem prefeituras e cadeiras nas câmaras municipais pela legenda do Partido.

Movimento dessa natureza, além de acrescentar robustez à ação própria do PCdoB, nos dará maior poder de fogo tanto para alcançar vitórias eleitorais expressivas, como para nos fazermos mais convincentes na peleja pela construção de ampla frente democrática capaz de isolar, enfraquecer e derrotar a extrema direita encastelada no governo central do país.

O Movimento 65, na medida em que ganhe dimensão, também contribuirá desde já para o acúmulo necessário às condições para que o PCdoB possa apresentar candidatura própria à presidência da República em 2022.

Na essência, acreditamos na correção do rumo que apresentamos ao país – apontando para um novo projeto nacional de desenvolvimento – e na capacidade militante de filiados e amigos e nos colocarmos no curso real dos acontecimentos e mobilizarmos, sob nossa liderança, parcelas expressivas da população.

Isto não quer dizer, entretanto, a adoção de atitudes aventureiras, descoladas da realidade concreta e da correlação de forças em cada lugar. Quer dizer sim, que ousaremos disputar prefeituras sem abrir mão da amplitude e da flexibilidade que nos permite unir forças, parcial ou totalmente, em cada situação.

Um exercício dialético de abordagem da realidade concreta em evolução, como defendia e praticava João Amazonas.

Publicado originalmente no Portal Vermelho.

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(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do PCdoB.