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No exercício das minhas funções de governo sempre procuro combinar o trato de problemas administrativos com o acompanhamento da cena política nacional.

Quem governa, administra e lidera ao mesmo tempo.

E os problemas da cidade são indissociáveis da cena nacional – sob muitos aspectos.

Ontem, numa reunião com a equipe do meu gabinete, veio à tona a questão da frente ampla. Ou seja: a conjugação de forças sociais e políticas insatisfeitas com o governo Bolsonaro e, sobretudo, decididas a barrar as suas ameaças crescentes ao Estado Democrático de Direito.

O pressuposto é que o acelerado isolamento político do presidente – encalacrado no insuficiente apoio da faixa da população estimada em torno de 30%, que o segue acriticamente – pode ter como corolário uma oposição capaz de barrar suas pretensões golpistas.

Meus companheiros de trabalho, esperançosos de que isto venha a acontecer, questionaram: quando a frente ampla será “oficialmente” constituída? Que programa adotará?

Na prática, nunca é possível antecipadamente estabelecer data e hora para uma concertação de forças dessa magnitude. Há um processo cumulativo.

Nos últimos três meses, várias conjurações frentistas têm se estabelecido. Da articulação de governadores para enfrentamento do coronavírus e para enfrentarem as agressões do presidente da República aos diversos movimentos que têm lançado manifestos em defesa da democracia.

O Primeiro de Maio Unificado, promovido pelas principais centrais sindicais, com a presença de personalidades e lideranças políticas de expressão e de correntes políticas diversas, por si mesmo foi uma importante iniciativa em favor da frente ampla.

Em nossa História, frentes políticas e sociais dessa dimensão nunca são um ponto de partida, são um ponto de chegada. Culminam uma determinada fase da luta política.

A Aliança Democrática, que derrotou a ditadura militar no colégio eleitoral, aconteceu assim.

De outra parte, Bolsonaro e seus apoiadores reagem. A busca de alianças pontuais com parcelas do chamado “centrão” é uma tentativa de reduzir seu isolamento político e se prevenir para a hipótese de um processo de impeachment.

O confronto entre esses dois campos opostos se dá diariamente, de modo aparentemente morno ou abertamente agudo. Perpassa a crise institucional, configurada no conflito permanente entre a presidência da República e o Congresso e o STF.

Os que se batem pela frente ampla, entrementes, vão acumulando elementos de entrosamento e de formatação de uma plataforma emergencial que dê uma saída eficaz para a crise sanitária, econômica e político-institucional.

O ritmo de tudo depende em boa parte de fatores objetivos, especialmente da dimensão dos impasses econômicos e da desgraça social, que queimam feito fogo de monturo na base da sociedade.

Barrar Bolsonaro é possível 

https://www.youtube.com/watch?v=NOGkDCBB9bE&t=247s

Publicado originalmente no Blog de Jamildo.

(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do PCdoB.