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As forças democráticas e progressistas da Nação estão chamadas a apresentarem com urgência uma saída para a tragédia nacional que toma conta do país: o Governo Bolsonaro e o bolsonarismo, projeto político da parte podre do capitalismo, o capital financeiro, que deliberadamente agravou os efeitos da pandemia do novo coronavírus e tenta instalar o caos, para implantar um regime de natureza fascista. Por isso não temos vacina, não temos economia funcionando, não temos soberania e nem respeito à democracia, à dor do povo e aos seus direitos. Esse é o projeto de Bolsonaro.

Como sair dessa situação, sem a derrota do projeto bolsonarista? Como derrotar a extrema-direita, sem unir o povo contra Bolsonaro? Como unir o povo, que não seja a partir do reconhecimento de sua diversidade social, étnica, cultural e política, que torna singular a nossa Nação?

Não é fácil, mas o desafio está posto novamente. E temos as lições da história a nos ajudar: sempre que unimos o povo em frentes políticas amplas, representativas de vários segmentos sociais e culturais, às vezes contraditórios entre si, ganhamos e o Brasil avançou. Foi assim na longa luta contra a escravatura, nas lutas pela independência e República e nas lutas do longo período entre 1930 e 1984, pelo desenvolvimento, pela industrialização e democratização da vida nacional. E foi assim no recente período do ciclo progressista de Lula-Dilma.

Reconhecemos que as forças políticas nacionais, refletindo a diversidade da sociedade brasileira, têm projetos distintos para a Nação. Muitas delas, até do campo da esquerda, nem concordam com aspectos dessa rápida análise histórico-política aqui apresentada. Contradições sérias existem também no nosso campo, a exemplo de propostas de política econômica e do sistema político, como quando, com o apoio de forças da esquerda, se aprovou o fim das coligações!!

Isto é, a vedação das alianças, a alma da própria política, trazendo mais restrições democráticas à representação do povo nos parlamentos. Se somarmos o conjunto das forças democráticas e as do campo liberal, vários dos seus setores apoiaram o golpe do impeachment da Presidente Dilma, sem medir as consequências da instabilidade que se instalaria e os perigos advindos, que deram na vitória da extrema-direita com Bolsonaro… Muitos deles insistem nas políticas econômicas neoliberais, que mantêm o país em crise social e política permanente.

Para o PCdoB, aparentemente seria um pouco mais complicado ainda, pois somos um partido guiado por uma ciência social avançada, o marxismo-leninismo, e por isso defendemos mudanças profundas na vida econômica e social do país, a partir de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, baseado em reformas estruturais do Estado (sistema político, educacional, comunicação, tributário, agrário, desenvolvimento urbano e social) que o torne forte o suficiente para garantir a soberania nacional, o desenvolvimento inclusivo e sustentável e a democratização plena da vida nacional, abrindo caminho para o estágio superior de desenvolvimento, o Socialismo. O PCdoB tem assim uma proposta – o Programa – singular, mas, pela sua natureza de transição social, aberta ao apoio de amplas forças sócias e culturais.

O PCdoB, a frente ampla e as esquerdas: como água e óleo, juntos, porém distintos, para o bom funcionamento do motor da democracia

Mas, qual é estágio da luta no momento? Estamos numa situação política favorável a discutir os rumos estratégicos da Nação, ou temos outras urgências, premissas a serem resolvidas, que abram o espaço para o povo discutir amplamente e com liberdade os caminhos do desenvolvimento? Não achamos que estamos numa situação de avanço da democracia e muito menos das forças da mudança social. Ao contrário, vivemos tempos de regressão, inclusive civilizacional, de perigo de desagregação da Nação e do advento de regime político e econômico despótico. O desastre do país é vitória de Bolsonaro e de setores do capital financeiro, e eles ainda têm forças para levar adiante seus propósitos nefastos.

Assim, o PCdoB propõe que a questão candente do momento, que deva concentrar todas as energias das forças vivas da Nação, seja a luta pela manutenção do Estado Democrático de Direito da Constituição de 1988. A forma dessa luta deva ser a politica de frente ampla democrática contra Bolsonaro, para barrar Bolsonaro, antes de 2022 ou na eleição de 2022, com base na aliança das forças de esquerda com as de centro e de centro-direita democráticas. O PCdoB lutará por essa tática, a nosso ver, a que é capaz de derrotar Bolsonaro, objetivo maior do momento. A forma política de constituir a frente ampla, que possa ter uma expressão de frente eleitoral, vai depender de como o conjunto das forças de esquerda e de centro e centro-direita democrática percebam os perigos que ameaçam a Nação.

Defendo que façamos tudo para a derrota de Bolsonaro. Desde apoiar uma candidatura viável logo no primeiro turno, ou, na impossibilidade disso, termos candidatura própria para lutar pela unidade da oposição.

Mas, a luta por esta tática deva ser feita desde já, nas lutas cotidianas dos movimentos sociais pelos direitos do povo, no apoio aos governadores e prefeitos pela vacinação em massa, no apoio ao Parlamento pela extensão do auxílio emergencial, na defesa das medidas do STF de proteção da democracia.

As alianças não são concessões, são necessidades da nossa luta, do seu estágio momentâneo, dos objetivos intermediários ao objetivo maior, o Socialismo. Temos 99 anos nessa senda. E nessa longa trajetória, já caminhando para o centenário inédito de um partido no Brasil, a história da República tem a marca desse pensamento político dos comunistas brasileiros. Esta marca dialética de nosso pensamento político – unidade ampla do povo nas lutas de cada momento e objetivo estratégico avançado – está cravada na nossa identidade e na de diversos segmentos sociais do país. O PCdoB é uma necessidade histórica e a consciência disso impele centenas de milhares de brasileiros e brasileiras, filiados ao partido, à luta pelo nosso lugar político no grande arco-íris da política nacional. Disso decorre a permanência do PCdoB enquanto tal, com seu Programa e Estatutos singulares, capazes de absorver parte, como todo partido, da diversidade social do Brasil.

A luta para afirmar o PCdoB e seu Programa está diretamente relacionada à luta pela frente ampla democrática contra Bolsonaro. Nessa luta política e de ideias, não nos diluiremos na frente ampla, renunciando o combate ao neoliberalismo e ao nosso projeto estratégico da transição para o Socialismo. E nem nos pautaremos pelas disputas menores no campo da esquerda, seja pela impaciência de uns em ocupar açodadamente os espaços perdidos por outros, desconsiderando e, às vezes, até negando o legado de conquistas em comum alcançadas, e nem também pelo exclusivismo e hegemonismo de outras. O PCdoB chagará ao seu centenário em 2022, muito vivo e disposto para a grande luta de transformação social do Brasil e da humanidade.

Olinda, 19 de fevereiro de 2021.

Marcelino Granja de Menezes.

Presidente Estadual do PCdoB-PE.