A construção da unidade das forças de esquerda e dos democratas na luta em defesa da democracia e dos direitos da população são temas da conversa de Luciano Siqueira com Edilson Silva, ex-deputado estadual e atuante membro do movimento popular do estado, recém-filiado ao PCdoB Pernambuco e eleito para a direção estadual na 21ª Conferência. O bate-papo com Edilson integra a pauta de entrevistas produzidas pelo vice-prefeito do Recife e divulgadas em seu Canal no Youtube.
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Luciano Siqueira – Qual o principal desafio que se coloca hoje diante do povo brasileiro?
Edilson Silva – Essa talvez seja a pergunta mais importante a ser respondida por aqueles que fazem política. No país, e o nosso desafio é encontrar o caminho da unidade. Esse hoje, com certeza, é o nosso maior desafio: encontrar os pontos de contato das forças progressistas, das forças até mais do que progressistas, algo mais amplo, inclusive. Porque nós estamos vivendo retrocessos civilizatórios, e precisamos encontrar esse ponto de contato que possa unir todas essas forças em torno de uma agenda mínima. Eu penso que a agenda é a defesa da democracia porque a democracia é a antessala da política. Sem democracia nós não conseguiríamos estar aqui, e a democracia está ameaçada.
As pessoas que conseguiram chegar ao poder no país e não foi uma chegada solitária na Presidência da República esse pensamento está presente em importantes municípios e em importantes estados, como o Rio de Janeiro, por exemplo. Nós temos ali uma situação bastante dramática, um governo estadual bastante truculento, bastante desrespeitador dos direitos fundamentais do nosso povo. Então, eu penso que esse é o nosso desafio. Eu estou muito dedicado a conversar com as pessoas, conversar com parceiros, conversar com pessoas de outros partidos, de movimentos sociais com o objetivo de ouvir e construir espaços onde se possa ouvir e tentar maturar esses pontos de unidade.
Luciano Siqueira – O que reforça sua preocupação com a unidade é o fato de que quase diariamente o presidente da República diz bobagens, pratica atitudes inusitadas e todos nós, de maneira justa, o criticamos. Concomitantemente, com as trapalhadas do presidente a equipe de governo que efetivamente entende alguma coisa e faz pratica uma agenda extremamente danosa à soberania nacional, aos interesses fundamentais do nosso povo e, como você diz ameaça a democracia porque, aos poucos, o que está estabelecido como norma vai sendo desrespeitado.
Quando isso acontece as nossas forças do campo da oposição – não me refiro só às forças da esquerda – aparentemente estão mais predispostas a cuidarem cada um de si mesmo do que encontrar esse ponto de contato como você diz, para que nós possamos, respeitando as diferenças, os projetos de cada partido, nós possamos caminhar juntos.
No seu sentimento e no seu papel de líder político e de militante experiente o que nos caberia fazer aqui em Pernambuco neste instante? De que modo nós poderíamos estimular a população para que nos cobrassem, das forças progressistas, essa tão desejada unidade?
Edilson Silva – Eu penso que nós temos tarefas que são combinadas. Tarefas das mais simples e cotidianas e tarefas das mais complexas, sofisticadas. Nós precisamos construir espaços de convivência com a população desde a mais humilde até as lideranças mais graduadas da política para conversar. Para conversar e perceber toda a riqueza do momento histórico que nós estamos vivendo. Hoje a América Latina nos dá uma lição por dia, uma lição histórica. O que aconteceu com a eleição na Argentina, por exemplo, o posicionamento das forças de oposição no sentido de fazer um enfrentamento conjunto contra o Macri dentro da institucionalidade, com todo respeito. Aquilo é um aprendizado para nós.
O que aconteceu no Equador. É outro aprendizado para nós. O que aconteceu no Chile com forças oposicionistas contra um governo de direita, mas é um aprendizado para todos nós, inclusive, para aqueles que no Brasil hoje tem até uma unidade conosco no campo da defesa da democracia, mas no terreno econômico se afastam. Então, para esses, que vão estar conosco no campo da defesa da democracia o Chile é um exemplo. Não existe paz, democracia, com tamanha desigualdade social. É preciso equalizar o ambiente econômico.
Luciano Siqueira – Mais cedo ou mais tarde a população explode.
Edison Silva – Explode. Isso é uma coisa que eu estou procurando trabalhar muito como militante do movimento negro, conversando com as pessoas, na prática eu estou fazendo isso. Eu tanto observo as questões nacionais, internacionais, e procuro atuar, mas eu faço na sede do meu partido, PCdoB, toda segunda-feira, um debate com dez/quinze pessoas, para discutir economia política e mostrar para eles por que está acontecendo isso no Chile? Por que está acontecendo, hoje, a retirada de direitos no Brasil? Porque o Estado neoliberal precisa ser, necessariamente, um Estado penal, ele precisa ser, necessariamente um Estado opressor, ele precisa criminalizar a política, ele precisa criminalizar os territórios onde as pessoas estão insatisfeitas que é para poder tratar um problema social e político como caso de polícia.
Luciano Siqueira – É incompatível com a democracia. Então, cerceia a democracia em todos os níveis.
Edilson Silva – Se você quer paz social, se você quer uma sociedade que esteja ali integrada, com tecido social devidamente costurado, as pessoas respeitando umas as outras, respeitando as instituições, é preciso que você garanta o mínimo de dignidade humana para as pessoas. No Chile, por exemplo, o aumento do número de suicídios de idosos estava demais porque as pessoas não conseguiam sobreviver com aquela reforma da Previdência que foi feita. Então, o que está acontecendo no Chile hoje, uma coisa de uma magnitude extrema, tem a ver com algo que foi acumulado durante muito tempo. Então, tem de fazer trabalho de base, ir para os territórios, para os territórios das cidades, para as comunidades, e discutir os problemas econômicos com bastante simplicidade, os impactos que a desigualdade social traz para a política e para a democracia.
Contraditoriamente, Bolsonaro se apresenta como um sujeito antissistema, antirregime, e ele maneja isso com muita habilidade. Na medida em que ele é um crítico contundente do sistema de comunicação, da Rede Globo, por exemplo, se coloca em uma posição de rebeldia, ocupando um espaço que dialoga, muitas vezes, com um sentimento desesperado da população, com pessoas que estão desesperançadas de tudo, com a política, com a democracia, e acabam assimilando o discurso de que precisa atrofiar, ter menos liberdade, ter menos democracia.
Então, agora, essa disputa vai exigir por parte das forças de oposição, mas, principalmente, das forças que são, conscientemente, anticapitalistas um trabalho bastante sofisticado de costurar, de construir uma unidade e a partir daí tentar recolocar o nosso país no rumo civilizatório. Isso porque, atualmente, nós estamos em uma escalada de retirada de direitos e a tendência é piorar.
Do Recife, Audicéa Rodrigues
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